sábado, 27 de outubro de 2007

E a reforma..

A reforma ortográfica, para quem não sabe, consiste em uma mudança que visa padronizar a língua portuguesa em todos os países em que é falada e, ao mesmo tempo, simplificá-la. No português brasileiro ocorrerá uma série de mudanças, citadas a seguir: o fim do trema, mesmo sem a mudança das palavras às quais ele é aplicado; o fim dos acentos diferenciais, como em ‘para’ e ‘pára’, por exemplo; a incorporação das letras k, w e y ao alfabeto; a alteração das regras de uso do hífen; a abolição do acento agudo em ditongos abertos e o fim do acento circunflexo em palavras com duplo ‘o’ ou ‘e’.

Um dos motivos, defendido por Marcos Vilaça, presidente da Academia Brasileira de Letras, é levar a língua até uma quantidade da maior da população. Segundo ele, “Quando você simplifica, coloca a língua mais próxima do povo”.

Creio que a simplificação não será eficaz, pois a grande maioria da população praticamente não perceberá as mudanças, restando às pessoas que realmente conhecem a língua – e, na maioria dos casos, gostam dela assim – adaptarem-se as mudanças.. O “povão” prefere usar o corretor ortográfico de programas de computador à aprender gramática. A linguagem virtual, já conhecida como ‘internetês’, vem, cada vez mais, aniquilando a beleza da língua portuguesa com pseudo-vocábulos como: fasso, inofênciva, conheçer e pesquizar.

Voo? Linguiça? Frequente? Leem? Heroico? Antirreligioso? Contrarregra? Não!

Essa simplificação em prol da padronização acabará causando uma “desculturização” do nosso português, retirando traços que já estão presentes na nossa cultura literária, ortográfica e gramatical.

Ainda pior é o tirar do nosso português a capacidade de auto-explicação. Ao se deparar pela primeira vez com uma palavra que necessitaria do trema, sem nunca tê-la ouvido, não há como saber se o ‘u’ é pronunciado ou não, além de não saber o motivo de tal pronuncia.

O mesmo caso vale para as palavras com acento diferencial. Sem alguma regra que regule esses vocábulos o numero de interpretações ambíguas tende a aumentar, diminuindo a auto-suficiência da nossa língua.

Além do que já foi citado, é ingenuidade pensar que a reforma é capaz, por si só, de padronizar a língua portuguesa em todos os países onde é falada. As particularidades culturais estão muito presentes, muitas palavras são completamente diferentes, sem contar os dialetos.

A influência externa é outro fator que contraria os ideais da reforma. O “português” brasileiro está repleto de estrangeirismos, como e-mail, mountain-bike, off-road, entre outros. Esses termos não são tão facilmente aceitos certos países, como Portugal. Até mesmo o gerundismo encontra suas raízes no inglês, onde expressões como “vou estar fazendo” são perfeitamente aceitas e comumente utilizadas.

Nesse ponto, acredito que seja necessária uma reforma. O português, belo e complexo, deve ser mais valorizado.

Enquanto o país necessita de reformas políticas e econômicas, a única reforma aprovada é a ortográfica. Portugal nem sequer assinou o acordo e o MEC já prepara licitações para a correção de milhares de livros.

Não importa a posição que as pessoas venham a tomar, seja a favor, seja contra, é fundamental que todos saibamos do que se trata.

Podem até mudar a língua, mas minhas idéias sempre terão acento, e tenho dito.

Nenhum comentário: